Com a morte do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência Eduardo Campos, do PSB, especula-se que sua vice, a ex-senadora Marina Silva, assumirá a cabeça da chapa.
A coligação partidária que apoia a candidatura, porém, pode enveredar por pelo menos quatro caminhos distintos.
Se não houver apoio a Marina, que enfrenta resistências dentro do PSB, os partidos da coalizão podem inscrever outro político para a disputa ou até abrir mão dela. Nesse caso, poderão ficar neutros na corrida ou se aliar às candidaturas de Dilma Rousseff (PT) ou de Aécio Neves (PSDB).
O PSB tem até o dia 23 para tomar sua decisão. A nomeação do candidato deverá ser aprovada pela maioria das direções dos outros partidos da coalizão: PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.
A coligação não precisa necessariamente lançar um pessebista; ela poderá nomear o membro de outro partido da coalizão, desde que o PSB abra mão de sua preferência para indicar o novo candidato.
A BBC Brasil listou os quatro possíveis cenários que se abrem para o PSB na disputa, abordando os obstáculos para que cada um deles se concretize.
Marina assume a cabeça da chapa
Neste cenário, tido por analistas como o mais natural, Marina concorreria à Presidência pelo PSB. A ex-senadora filiou-se à sigla no ano passado, após a Justiça Eleitoral rejeitar a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade.
A coalizão poderia, então, nomear para o cargo de vice algum político tradicional do PSB, para manter algum controle sobre a chapa.
Pesam a favor de Marina sua popularidade (ela obteve 19% dos votos na última eleição presidencial, em 2010) e a relação que construiu com Campos após a o lançamento da candidatura. Apesar das divergências políticas entre os dois, ambos exaltavam a dobradinha em público, e Marina ocupava quase tanto espaço na propaganda da chapa quanto Campos.
O irmão do ex-governador pernambucano, Antonio Campos, que é membro do PSB, divulgou nesta quinta uma carta defendendo que Marina assuma a candidatura.
Mesmo assim, a decisão de lançar Marina enfrentaria resistências no partido. Caciques pessebistas, como o novo presidente da sigla, Roberto Amaral, e o deputado federal Márcio França (SP), já tiveram importantes divergências com a política acreana.
A relação de Marina com a cúpula do partido se deteriorou quando ela interveio em negociações do PSB para o acerto de palanques estaduais. A ex-senadora barrou a aproximação do partido com os ruralistas Ronaldo Caiado (candidato do DEM ao Senado por Goiás) e Ana Amélia (postulante do PP ao governo do Rio Grande do Sul), gesto que irritou dirigentes pessebistas.
Marina defendia que as alianças nos Estados se restringissem a partidos e candidatos alinhados ideologicamente com a chapa do PSB, rejeitando acordos com PT e o PSDB, além de grupos políticos tradicionais ou adversários, como os ruralistas.
Mesmo assim, ela não conseguiu evitar que o PSB se aliasse com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio. Marina ainda não anunciou se pleiteará a candidatura.
O PSB escolhe outro político do partido
O PSB poderia nomear para a corrida algum de seus políticos tradicionais. Os principais dirigentes da sigla hoje são seu novo presidente, Roberto Amaral, os deputados federais Beto Albuquerque (RS) e Márcio França (SP), o senador Rodrigo Rollemberg (DF) e os governadores Renato Casagrande (ES), Ricardo Coutinho (PB), Wilson Martins (PI) e Camilo Capiberibe (AP).
À exceção de Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula, todos os outros já são candidatos a outros postos na eleição: Casagrande, Coutinho e Capiberibe concorrem à reeleição nos governos de seus Estados; Rollemberg disputará o governo do Distrito Federal; Martins e Albuquerque pleitearão vagas no Senado; e França é candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin em São Paulo.
Para que assumem a chapa para a Presidência, teriam de abrir mão de suas candidaturas. Segundo o presidente da Comissão Nacional de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, José Norberto Lopes Campelo, caso os candidatos renunciem das disputas nos Estados, eles poderiam ser substituídos por outros postulantes.
A troca, diz Campelo, teria de seguir os mesmos procedimentos da substituição na chapa presidencial.
Ao lançar um político do próprio partido para a Presidência, o PSB poderia tentar manter Marina no posto de vice, mas analistas avaliam que é improvável que ela aceite.
Outro entrave importante é que nenhum dos dirigentes do PSB tem a mesma projeção de Campos ou Marina e correria o risco de receber uma votação ínfima na eleição, diz David Fleischer, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB).
O PSB poderia, ainda, recorrer a membros mais conhecidos, entre os quais o ex-jogador e deputado federal Romário – candidato ao Senado pelo Rio – ou a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina – candidata à reeleição na Câmara. Nenhum dos dois, porém, exerce hoje influência relevante na direção da sigla.
O PSB escolhe membro de outro partido da coalizão
Se assim desejar e tiver o apoio da maioria da coalizão, o PSB pode abrir mão de lançar um candidato do próprio partido para nomear um postulante de outra sigla coligada.
Nesse caso, o presidente do PPS e deputado federal por São Paulo, Roberto Freire, seria o favorito. Freire atualmente busca a reeleição para a Câmara dos Deputados.
Pernambucano como Campos, Freire é um dos políticos mais experientes da coalizão e é próximo de Marina Silva.
As outras siglas da coligação (PHS, PRP, PPL e PSL) não contam com políticos conhecidos.
No entanto, o novo presidente do PSB, Roberto Amaral, disse na quarta-feira que "não há a possibilidade de abrirmos mão de candidatura própria", o que torna a nomeação de alguém de fora da sigla improvável.
A coalizão abre mão de lançar candidato
Outra opção possível, ainda que pouco provável, segundo analistas, é a coligação abrir mão de lançar um candidato à Presidência.
Nesse caso, a coalizão poderia se manter neutra na disputa ou se aliar, já no primeiro ou em eventual segundo turno, a uma das duas principais candidaturas: a de Dilma Rousseff (PT) ou a de Aécio Neves (PSDB).
O apoio a Dilma poderia significar, num eventual segundo mandato da presidente, a volta do PSB à base governista, de onde saiu no ano passado. O endosso a Aécio simbolizaria o desejo da sigla em firmar-se no pólo oposto ao PT.
As duas alternativas, porém, contradizem o discurso de Campos, que postulava buscar uma terceira via na política nacional, que escapasse à polarização PT-PSDB. Para David Fleischer, da UnB, se abrisse mão da disputa presidencial, o PSB encolheria como partido, elegendo menos congressistas e governadores.
"Eles deixariam de ser um partido médio e voltariam a ser um partido pequeno."